quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

o reencontro

  Despia-se lentamente de tudo que lhe cobria o corpo. As roupas, os medos, a vergonha, deixando somente a candura de uma menina.
  A cada peça de roupa que caía ao chão, se ia uma lembrança ruim, algo que desejava esquecer. A calcinha  pequena de renda seria a última peça, embora estivesse de vestido -o que facilitaria a retirada em primeiro lugar -, escolhera ela como peça chave da nudez total e plena. Tudo era retirado devagar, sem sensualidade, apenas com leveza, para que cada pensamento acompanhasse cada peça, do início de seu toque, até o encontro com o tapete que forrava o piso frio.
 Antes de mergulhar em sua banheira de água fria, contemplou seu corpo no espelho atrás da porta. Queria ver se ainda era a mesma Lucy. Mesmo sem as roupas envolventes, o olhar maldoso e malicioso, o corpo inclinado para provocar, seria ela verdadeira?
 Colocou o pé esquerdo de leve na água. Hesitou retirando rapidamente os dedos, antes que chegassem a afundar. Estava fria, mas era nessa temperatura que seu corpo deveria permanecer por algum tempo. Lucy já sentia seu corpo quente o suficiente. Resolveu ser mais ligeira ao entrar, em um único e súbito movimento, sentou-se e levou sua cabeça inclinada para fora da banheira. Ficou um tempo olhando para o teto sujo e por alguns segundos pensou em como o limparia, mas antes de obter uma resposta lembrou que não estava ali para rever seu papel de dona de casa.
  Afundou a cabeça na água e permaneceu ali, imóvel até o insuportável momento que o ar quase se foi. Voltou a fitar o teto imundo e sem tirar os olhos do mesmo ponto, pegou uma esponja de banho e a deslizou sobre seu corpo. A princípio o lavava sem pretensão alguma, mas quando as gotas molhadas enrijeceram seus mamilos, os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Continuou com movimentos leves e a cada toque, uma parte do seu corpo se arrepiava.
  Desceu  e subiu devagar a esponja dos seios até embaixo do umbigo. Leve, porém firme. Enquanto sua mão conduzia a esponja por este caminho, suas coxas se encontravam e se apertavam, como um abraço de reencontro. Sentia que seu sexo pulsava e pedia por suas mãos. Há tempos não fazia isso, há tempos não se dava prazer. Buscava todas as noites por algo que ela esquecera de lhe dar. Lembrava bem de como fazia antes e de como era bom, quente e irresistível.
 Já não podia mais resistir. Conforme o corpo de Lucy se mexia, a água criava pequenas ondas, expulsando para o tapete o que sobrava naquele espaço. A cada gota caída no chão, Lucy retirava de si o que ainda restava de pudor, medo e vergonha. Apenas o encontro dela com seu corpo, com sua redescoberta. 
 Finalmente os dedos encontraram o lugar que queriam estar. Suavemente encostou as pontas dos dedos nos lábios do seu sexo, e aos poucos foi procurando novos postos de prazer. Seu clitóris parecia maior e mais sensível, fazendo com que Lucy desse pequenos pulos a cada toque. Os dedos pareciam saber a direção certa, passeavam até penetrarem totalmente no corpo de Lucy. Iam e voltavam com diferentes intenções, sem se esquecer das partes mais externas. Parecia que sua mão criara vida. Era tão intensa e tão sábia!
  Lucy gargalhava, mordia seu lábio inferior, gemia, urrava sem importar se alguém a escutava no andar de cima ou de baixo. Nada lhe importava além do seu prazer. Durou um bom tempo até seu corpo ser tomado por uma sensação de cansaço, arrepio, vontade de continuar, tremedeiras e outras sensações indescritíveis. Soltou seu último grito seguido de um suspiro aliviado.
 Sorriu um riso doce, quase angelical e voltou a fitar o teto. 


domingo, 29 de setembro de 2013

Desejo colorido

Lucy tinha algumas amizades que ultrapassavam as barreiras do pudor e do desejo oculto. Sempre cultivara essas amizades por que segundo ela, estas eram as verdadeiras. Acreditava que sentir atração por um amigo seria algo absolutamente normal e saudável, aliás, sempre soube que as relações mais ardentes eram com aqueles amigos..."coloridos". Estes sim sabiam seus segredos, seus toques, seus desejos e assim sabiam satisfazê-la da melhor forma, sem cobranças nem ressentimentos.
 Estes amigos eram cuidadosamente escolhidos, para que nada fugisse de seu controle. E Lucy sabia selecionar muito bem, como se descobrisse quem seria em um simples olhar. Não precisava questionar ou usar de artimanhas para que o amigo se revelasse um ótimo amante.
 Lucy gostava de ter esses amigos para quando se sentisse solitária. Assim, teria com quem conversar, beber e se entregar sem nenhum medo. Também eram necessários nas noites em que Lucy não queria sair para "caça", ou quando não houvesse nada de atraente nas ruas.
 Mas ultimamente estava sozinha, sem amigos coloridos ou mesmo em "preto e branco". Embora não fossem muitos, todos tinham cansado dessa vida de vai e vem dos desejos. Todos resolveram tomar um rumo na vida sentimental e arrumar alguém com quem poderiam dividir cada segundo de suas horas livres. Todos menos Lucy. 
 Para ela pouco importava se somente ela havia "sobrado". O que importava mesmo é que ela havia perdido suas "cartas na manga"! Há tempos não encontrava em suas aventuras um amigo desse tipo. Mas sem querer, alguém que sempre havia passado despercebido aos olhos fogosos de Lucy ressurgiu em seu caminho.
 Se encontraram por acaso em um bar e fizeram o que sempre foi feito por ambos: apenas se cumprimentaram. Ficaram em lados opostos do balcão, mas os olhos se cruzavam a cada instante. Sempre que podiam, paravam e se fitavam por um longo tempo. Cansada de ficar sentada buscando coisas que nem ela sabia o que eram, resolveu dançar. De olhos fechados, claro.
 Dançou uma música como se flutuasse e ao começar outra, sentiu uma mão cheia de unhas agarrar sua cintura, colar o corpo no seu e seguir seus movimentos. Lucy não abriu os olhos, nem se virou até a música terminar. Ao se virar deparou com os olhos que encontrara no balcão. Ambos sorriram e suas bocas se aproximaram como imãs. Dançaram, beijaram, se acariciaram e se deliciaram com todo aquele flerte.
Ao saírem, ela o convidou para juntos buscarem um lugar mais deserto e escuro. Andaram por ruelas, pararam em muros e espaços entre casas, mas sempre aparecia algo: um carro, casais, grupos saindo de festas. Todos pareciam contra aquele encontro dos dois, e pela primeira vez, Lucy foi embora segurando suas fantasias. Mas ela não poderia deixar aquela situação inacabada.
 Procurou-o onde podia, até encontrar seu contato através de um amigo em comum. Sem hesitar, ligou e combinou um outro encontro. Poderia ser em qualquer lugar, desde que pudesse ficar a sós com seus desejos e fantasias. Ele a convidou para ir em sua casa, e lhe prometeu uma grande noite.
 Quando Lucy chegou, prontamente ele lhe ofereceu uma bebida. Havia música boa, bebidas e um clima quente. Tudo perfeito para Lucy que já ardia. Ele tinha o corpo magro, rígido, unhas compridas prontas para atacar. Seu rosto aparentava ser de bom moço, daqueles que não sabem o que fazer com as mão ou como agir na cama. Para Lucy esses são os melhores. Escondem como ninguém seus mais ardentes desejos, são ousados e adoram surpreender.
  Ela estava certa. Sutilmente ele se aproximou de Lucy que dançava com um copo de Martini na mão. Beijou seus ombros, pescoço até subir lentamente até sua boca. Os corpos anunciavam o tesão e ambos já não queriam fingir ou inventar outras situações. Começaram no sofá: beijos longos, mãos que percorriam os corpos sem deixar escapar qualquer parte, o corpo dele sob o dela fazia com que se molhassem de suor e prazer.
 Foram para o quarto, e em silêncio despiram-se de tudo que separava seus corpos. Se encaixaram perfeitamente enquanto suas línguas se reencontravam. Lucy começava a descobrir o porque de unhas tão grandes. Estavam ali para percorrer o corpo de Lucy, para adentrar em sua carne de forma deliciosamente dolorida. As mãos que pareciam tão suaves, seguravam o cabelo de Lucy com força mas ao mesmo tempo com cuidado. Era selvagem, ardente e surpreendente como ela previra.
 A língua dele havia deixado a boca de Lucy e descia suavemente até sua barriga, coxas e sexo. A vontade dos corpos de entrar um no outro não era mais latente, mas todo aquele ritual enchia seus corpos de um tesão sem tamanho e Lucy se sentia quase em erupção. A boca de Lucy devorava o corpo dele, enquanto as unhas cravavam e rasgavam a pele clara de Lucy.
 Finalmente os sexos se encontraram uma, duas, três...várias vezes durante a noite que se seguia. Lucy queimava e seu fogo insistia em não cessar. Ele não negava nada, estava a mercê dos caprichos de Lucy por que também eram os seus. Tudo o que faziam seguia da vontade de ambos.
No outro dia estavam felizes mas não satisfeitos. Seguiram se buscando, se encaixando e se devorando durante uma manhã inteira. A pele de Lucy se encontrava desenhada e poucos espaços ainda restavam sem um arranhão. Marcas da primeira noite dos novos amigos coloridos.
Este ela apelidara de "amigo arco íris", e a única coisa que a repudia é saber que ela não é sua única amiga com benefícios.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Chuva de suor e desejo

Fazia já algum tempo que Lucy não saía do "seu território", não viajava, não visitava cidades vizinhas, não conhecia outros ares, outras paisagens, outros corpos. Cansada de frequentar os mesmo bares, ver quase os mesmos rostos (embora sempre aparecesse algum visitante), andar pelos mesmos becos sombrios decidiu arrumar uma mochila e "fugir". Queria ver se a lua em outra cidade era mesma, se os desejos permaneciam ocultos nos moradores desse outro lugar, se os olhares diziam coisas que não sentiam e se as bocas se negavam a receber o vermelho do sexo.
 Partiu ligeira, urgente e sem rumo. Não tinha ninguém para se despedir na rodoviária, o que tornara sua partida um tanto quanto melancólica, mas não menos divertida. Olhou bem ao redor, na procura de uma "vítima" talvez. Uma despedida rápida no banheiro imundo daquele lugar. Nada lhe agradou.
 Ainda não sabia seu destino e para não ser injusta com nenhuma cidade, decidiu entrar na fila de pessoas mais interessantes e diversas. Uma fila com casais, velhotes com aspecto cansado de uma vida sem graça, jovens procurando por festas em lugares onde seus pais não pudessem descobrir, enfim, transeuntes solitários e fingidores de seus desejos, porém com algo que chamava atenção de Lucy.
 Embarcou e seguiu viagem alimentada pela curiosidade do que poderia encontrar por lá. Sem querer, acabara por escolher uma cidade pequena e pacata, mas ao invés de se arrepender de tal escolha, Lucy ficou ainda mais feliz, pois sabia que nessas cidadelas os desejos se ocultavam em lugares afastados, proibidos até mesmo de serem mencionados. Eram nesses lugares que Lucy queria espalhar a semente da luxúria, do pecado e do prazer.
  Foram seis horas de viagem cheias de expectativas, e embora o calor escaldante deixava seu corpo cansado, Lucy não queria descansar assim que chegasse na cidade. Queria descobrir.
   Ao chegar na pequena cidade, deparou-se com ruas quase vazias. Um ou dois carros passavam de vez em quando pelas ruas estreitas. O hotel que se hospedara ficava em frente a uma praça -única por sinal. Assim que o avistou, entrou direto pois precisava de um banho e de roupas mais leves.Subiu até seu quarto, e antes mesmo da porta se fechar, já estava se despindo. Entrou no chuveiro, se molhou e passou o sabonete delicadamente pelo seu corpo. Queria estar purificada para novas experiências. Depois de se enxugar, enrolou-se na toalha, abriu sua mochila e tirou a roupa que vestiria. Apesar do dia quente, sabia que mais tarde iria esfriar, e não pensava em voltar para aquele quarto tão cedo. Ao invés de um vestido, preferiu usar calças jeans.
   Saiu a andar pela cidade sem rumo. Já começava anoitecer e Lucy ainda não havia visto ninguém interessante. Na verdade, quase não enxergara pessoas naquela cidade. Alguns pingos de chuva começavam a cair, mas nada que impedisse Lucy de ficar pelas ruas.
   Chegou em frente a um bar e resolveu procurar algo que pudesse lhe aquecer. Se não encontrara um corpo, ao menos uma boa bebida servia para lhe encher de calor. Dentro do bar, havia um grupo de rapazes falando alto e discutindo sobre a bebida que levariam. Lucy olhou um por um, dos pés a cabeça e embora nenhum lhe atraísse, os achou divertidos. Se aproximou e sugeriu um vinho, já que a noite começava esfriar e a chuva traria ainda mais frio. Foi doce, simpática e sensual ao dizer tudo isso. Pronto! Foi o bastante para iniciarem uma série de conversas.
  Todos ali estavam a passeio na cidade e estavam prestes a fazer uma despedida, pois iriam embora na manhã seguinte. Estavam todos acampados em uma espécie de galpão, e muitos outros ainda estavam por lá. Lucy pensou em se convidar, mas antes disso alguém já havia lhe feito o convite.
   No momento em que saíam do bar uma tempestade se fez, inundando ruas e dificultando acessos. Um dos rapazes pegou seu telefone e ligou para um amigo motorizado, pedindo para que os buscassem. Logo chegou o tal amigo e Lucy, que ainda não havia encontrado o interesse nos outros, ali viu sua noite acender. Ele mal a olhou, mas ela sabia que mais tarde a olharia. E ela faria de tudo para que isso acontecesse.
     Chegaram no tal galpão gritando, cantando, festejando, enquanto alguns que haviam ficado no local respondiam no mesmo tom. Uns vieram conhecer Lucy, que se mostrou aberta a qualquer diálogo. Conversava sem tirar os olhos daquele homem. Um homem! Não era um rapazote de rosto bonito e pouca vivência na cama. Era um homem de rosto e corpo firme, cuja ótima "performance" se mostrava visível a Lucy. Ela o desejava mais que tudo ali. Mais que as conversas, que o vinho barato ou que a brincadeira que iniciava em um canto escuro do galpão.
   Todos toparam participar da brincadeira erotizada, com a proposta de fazer com que os segredos mais sagrados saltasse das bocas já embriagadas. Algumas revelações que juntariam muitos corpos sedentos, fogosos e atraídos desde o primeiro gole. Lucy queria participar para conhecer melhor o homem. Assim como ela, ele havia feito loucuras, denominadas como coisas horríveis e proibidas. E conforme iam se revelando seus olhares iam se cruzando, se encontrando e buscando a vontade de colocar algumas coisas em prática.  Lucy já não se segurava na cadeira.
  O homem saiu, se dirigiu ao banheiro e da porta fez um sinal para Lucy, que se levantou ligeira sem prestar atenção se alguém viria aquela cena. Antes que pudesse tocá-lo, ele a agarrou e a encostou em uma parede. Passando o banheiro havia uma espécie de sala escura. O lugar preferido de Lucy.
  Ferozmente aquele homem a beijou e a tocou sem pudor nenhum. Suas mãos transitavam pelo corpo de Lucy, assim como sua boca quente. O desejo de ambos era continuar com aquela sequencia de mãos, toques, beijos e apertões. Pouco importava se seria ali ou em outro lugar. No meio de tanta loucura foram interrompidos por passos que se aproximavam. Sem perder tempo o homem a convidou para conhecer seu carro. Lucy sorriu. Não precisava responder.
  Antes, beberam e riram mais um pouco. Como antes, o homem se dirigiu a porta da rua e fez um sinal. Lucy novamente correu dali, e dessa vez sabia que todos haviam percebido o que acontecia.
 O carro grande estava estacionado quase em frente a porta. Nem a chuva forte fez com que ambos desistisse da aventura. Lucy nunca entendeu sobre carros, só sabia que aquele era grande o bastante para fazer tudo e muito mais.
  Lucy estava em pé quando ele começou a beijar seu corpo, tirar sua roupa e penetrar sua língua. Uma língua que sabia os lugares certos, os pontos da loucura. Sua boca era quente e queimava as coxas de Lucy. Sua língua envolvia cada pedacinho, penetrava em cada canto ou dobra de pele. Lucy se sentia plena, e se soltava a cada toque que aquelas mão fortes lhe dava. Os calafrios já não podiam ser dominados, assim como os suspiros e os gemidos. Sim! Gemidos, como já nem lembrava mais como se emitiam. Os gritos vinham de uma parte do corpo ainda desconhecida por Lucy, mas isso já não importava mais. Ela gostava dessa espontaneidade do seu corpo. E como gostava. Nada era mais sincero que o movimento do seu corpo e seus gemidos. Enquanto ele dizia que Lucy podia fazer o que quisesse com ele, ela pensava o mesmo sobre ele fazer tudo com ela. 
  Pela primeira vez não queria ser a dominadora, não queria satisfazer apenas suas vontades porque sabia que os desejos eram os mesmos. Ambos queriam tudo e urgente!
 A língua de Lucy também percorria o corpo daquele homem cheia de prazer. Sua boca descobria e encobria o sexo pulsante e firme. Mesmo que fizesse tudo, que experimentassem maneiras e toques, nada os fazia parar. Nem mesmo o fato de talvez serem pegos pelo guarda que passava apitando em meio a chuva. 
Enquanto as gotas de chuva caíam lá fora, gotas de suor escorriam pelos corpos, sem que se pudesse identificar a quem pertenciam. Aliás, não se podia dizer que algo ali ainda pertencia a eles. Os nós de braços e pernas eram tantos que formavam um só ser.
 Os vidros embaçados delatavam o que ocorria dentro do carro. Talvez o balanço também pudesse denunciar algo. Mas nada importava naquele momento a não ser a procura e a busca um pelo outro.
Lucy jamais se sentira assim, tão satisfeita e ao mesmo tempo tão insaciável. Embora estivesse cansada de um dia cheio, com o corpo embebido em um vinho barato, sentia vontade de ficar dias trancada com aquele homem tão doce e ao mesmo tempo tão firme. Sabia que ele tinha muito mais a lhe oferecer e temia nunca mais saber o que era. Tinha medo do vazio que ele lhe deixaria ao partir, de nunca mais lhe beijar a pele. 
 Dessa vez, Lucy não sumira depois de terminar o ato. Pelo contrário, deitou o homem em seus braços, o olhou, o acarinhou e sorriu, tornando aquele momento doce e eterno.
 Não havia lua naquela noite, mas a chuva nunca fora tão bem vinda.
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Há tempos Lucy não apreciava uma confraternização com amigos. Talvez nunca tenha participado de alguma depois do ensino médio.Eram sempre tão monótonas, cheias de risos sobre piada alguma, falsos moralismos, puritanas de fachada, assuntos chatos, comentários maldosos e nada de diversão. Pelo menos não a diversão que atraía Lucy.
A pior parte disso é que essas reuniões eram anunciadas como festas, onde adolescentes fogosos poderiam soltar suas vontades, beber, experimentar tudo e todos. Porém, a verdade era outra. Uma realidade baixa e cruel, que convencia meninas a beber “enlouquecidamente” até perder completamente a noção, a ponto de se deixar levar pelo mais babaca, aceitar transar com ele, mas desmaiar e vomitar na primeira tentativa. Depois, claro, virar alvo de comentários maldosos pelo resto da vida escolar.
Para Lucy não importava se era festa de adolescentes, universitários ou adultos. Tudo seguia as mesmas regras hipócritas. Todos queriam se entorpecer, mergulhar no desejo e se doar por inteiro, mas faziam totalmente ao contrário. Não fazia a menor questão de perambular por locais assim, até que veio o convite de um casal de amigos.
Convidaram para a despedida de sei lá quem, vindo de sei lá onde. Não importava, afinal, Lucy não iria comparecer. Saiu sem rumo. Era uma noite estrelada de domingo que pedia por algo diferente. Lucy bebeu alguns copos de vinho, uma garrafa de champanhe, alguns copos de conhaque, trocou algumas palavras com dois amigos, esperando algo a mais de um deles. Esperou demais, bebeu demais e se viu cercada de alguns sentimentos estranhos, todos relacionados aquele algo mais que esperou.
Resolveu brindar com as estrelas, mas no caminho pensou em aparecer na despedida. Assim como ela, as poucas pessoas que se encontravam na festinha estavam tomadas pelo vinho. Uma casa antiga, com portas grandes, vários cômodos e corredores. Cantos escuros que seduziam, paredes que pareciam implorar por gemidos e sussurros. Lucy analisou cada lugar que poderia talvez usar, olhou cômodo por cômodo antes de chegar no pequeno pátio onde a festa rolava. Tudo acontecia exatamente como ela sempre quis que seria, ao contrário de outras que ela vivera. Um sorriso espontâneo surgiu no rosto de Lucy e sem hesitar, começou a dançar. Todos dançavam com todos, se tocavam, se entrelaçavam, bebiam, riam gargalhadas sinceras, corpos com corpos sem pudor nem medo. Uma orgia sem sexo, um ritual, uma dança com vários corpos formando um só. Tudo atiçava e excitava Lucy, mas estava tão envolvida naquela dança que ainda não havia reparado em ninguém.
Na pequena pausa que deu entre uma dança e um copo de vinho, se sentiu vigiada. Procurou e parou no olhar de um rapaz pequeno, magro, de barba rústica. Ela conhecia bem aquele olhar. Ele tinha os olhos de fome e um semblante de devorador. Estava ali procurando o mesmo que Lucy e tinha pressa. Na primeira oportunidade ofereceu uma bebida a Lucy, que aceitou sem ao menos perguntar o que bebia. Ele parecia ansioso, olhava, analisava e salivava. Lucy podia ver o desejo fervilhando e deixou que ele tomasse todas as iniciativas. Queria vê-lo explodindo de vontade. No silêncio de ambos, o rapaz saiu e largou suas palavras:
“Pode tomar o quanto quiser, depois vai lá dentro e me entrega o copo.” Sumiu na escuridão de um longo corredor, deixando Lucy explodindo. Ela o seguiu, mal deixando que ele sumisse completamente de sua vista. Como ela bem esperava, ferozmente ele a agarrou de baixo de uma escada. Beijaram-se até serem interrompidos por um rapaz que Lucy apelidara de “escroto carente”. Um ser que estava ali somente para atrapalhar, por não encontrar ninguém com quem pudesse trocar carícias picantes pelos cantos da velha casa, arrumara um jeito de se divertir: atrapalhando que quisesse liberar seus desejos. Gritou algumas frases sem sentido enquanto bebia, ria e cuspia. Temendo perder o tesão, Lucy retrucou algumas palavras grosseiras, na tentativa de fazer com que o rapaz de olhos famintos a levasse dali, já que o escroto não iria sair por vontade própria. Para sua felicidade, o recado foi bem entendido e seu desejo também. Procuraram uma porta qualquer e entraram em uma sala escura. Ele perguntou se poderia acender a luz, o que pouco importava para Lucy. Ao iluminar o espaço, observaram o vazio do lugar. Quase vazio, não fosse uma espécie de sofá quebrado. Um lugar perfeito.
Lucy nem conseguiu terminar de examinar o local, foi puxada para mais um beijo ardente, louco e faminto. Ele a segurava como se não quisesse soltá-la mais e Lucy gostava daquelas mãos firmes. Aos poucos foi limitando os movimentos de Lucy, induzindo a realizar seus desejos, sem dar espaço aos dela. Com um movimento rápido, ele a colocou de joelhos, diante de seu órgão pulsante e duro. Lucy sabia bem o que ele queria, e no primeiro momento quis também, mas depois gostaria de variar, experimentar. Mas ele não. Continuava agarrando seus cabelos, cada vez com mais força, empurrando sua cabeça em direção ao sexo latejante.

Cansada daquela cena, Lucy tomou fôlego, levantou-se e o olhou fixamente. Séria, o segurou pelos braços, deixando claro que ela também tinha suas fantasias. Ele sorriu e se entregou. Lucy o beijou e desceu sua língua de volta ao órgão cada vez mais pulsante e quente.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

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Lucy só pensava em sair daquele lugar chato com pessoas sem graça, escondendo o mínimo de tesão que possuíam. Para que as horas passassem mais depressa, descobriu uma maneira prazerosa e divertida: a espionagem. Começou observar as pessoas, mas principalmente a forma como estas se olhavam.
Decidiu que procuraria os desejos, as sensualidades e os flertes. Escolheu como fosse uma categoria. Tomou uma habilidade instantânea e surpreendente. Sempre gostou de observar, mas naquele momento estava tomando essa atividade quase como um trabalho. Sentia-se uma espécie de detetive do desejo.
Primeira vítima: um rapaz, jovem, aparentando ser estudante universitário – por sua cara de “universiotário’, pensava ela rindo -, querendo parecer sério e inteligente, com uma calça de um jeans claro e camiseta branca sem estampa, um cabelo que parecia ter sido cortado á pouco tempo e um rosto quase infantil, a não ser pela barba tosca e mal feita, mas no seu olhar percorria a malícia. Quase sútil, mas não para Lucy. Seguiu seu olhar e descobriu uma jovem, magra e loira. Típica “menina Barbie”, de olhos claros, maquiagem carregada para esconder sua pouca idade, querendo parecer uma mulher adulta e decidida, embora seu jeito mostrasse uma débil e frágil ninfeta. O jovem segurava-se no pudor comum, na vergonha por desejar, mas não conseguia tirar os olhos da moça.
A cada jogada de cabelos da moça, os suspiros do rapaz aumentavam seu volume. Como se fosse de propósito, buscando uma maneira ingênua de chamar atenção da radiante menina. Ao descer, a bela lançou um olhar para o estudante assustado que ao invés de segui-la sem se preocupar se aquele era ou não seu ponto, a seguiu somente com os olhos até o ônibus partir. Ficou ali, com a cara colada no vidro na esperança que ela talvez acenasse ou mandasse um beijo. Lucy achou ridícula aquela performance de adolescente na puberdade e concluiu o quanto era patética as tentativas de “se dar bem” sem ao menos correr atrás disso.
Aquela cena havia passado, com o mais terrível dos finais. Decidiu buscar outras histórias e personagens. Levando os olhos de um lado a outro, parou em um casal. Aparentemente apaixonados, não fosse as horas de silêncio onde cada um fitava coisas distintas. Como se procurassem algum motivo para estarem ali, para estarem juntos rodopiavam seus olhos por tudo, dentro e fora do ônibus. Mesmo de mãos dadas, seus pensamentos não estavam juntos.
Lucy teve a certeza de que aquele casal seguia a risca o papel típico de novela das nove quando conseguiu ouvir um dos poucos diálogos entre eles. Ela falava da amiga que comprara roupas em uma promoção, enquanto ele falava no carro que pensava em comprar para ambos passearem na praia em um feriado qualquer. Riam de besteiras tão infames quanto os quadros do programa Zorra Total. Lucy se corroía por dentro e tinha vontade de se levantar e cortar aquela cena tão pequena. Queria acabar com aquela farsa!
Quase desistiu de continuar a olhar aquele casal beirando a depressão, mas antes que buscasse outra vítima, viu o olhar da “namorada perfeita” se lançar diversas vezes para frente. Não procurando algo, mas observando um alvo já existente. Lucy seguiu o olhar acanhado da moça e se deparou com o olhar do franzino cobrador. Um tipo sedutor, com cabelos ensebados de um gel vagabundo. Não era nem muito bonito nem muito feio. Não era o tipo que a atraía, mas Lucy sabia que se o encontrasse em uma festa não veria problemas em sair com ele. Enquanto o namorado olhava animado para o lado de fora da janela, cobiçando os carros que passavam, sua amada fitava cada vez mais indecentemente o cobrador.
Tudo ficou ainda mais excitante para Lucy quando o cobrador iniciou uma série de sinais para a moça. Piscava olho, lançava sorrisos, olhava fixamente sem ao menos verificar se o tapado estava olhando. Lucy que a pouco via aquela mulher como a mocinha idiota da novela das nove, agora percebia que aquela não escondia seus desejos, que ardia em chamas. Sentiu-se aliviada por ter subestimado o par. Ao menos ela se salvara. Decidiu deixar que a moça e o cobrador se divertisse ás custas do “futuro motorista”.

Já era hora de Lucy descer e ao se levantar para dar sinal trombou com um grisalho alto, robusto e risonho. Ao desculpar-se, Lucy lançou um olhar e um sorriso de malicia, deixando aparente seu interesse. Ao notar a reciprocidade do interesse, o homem fez um sinal para que Lucy tomasse sua frente, e em um gesto sutil tocou suas costas, na altura da cintura. Desceram juntos, mas aquele não era o ponto dele.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"olhos que sorriem"

Lucy já observava esse rapaz há muito tempo. Já cruzara com ele pelas noites, em festas, bares e pelas ruas. Seu interesse pelo rapaz de olhos pequenos e expressões de "moleque", daqueles que esperam o momento exato para apronta uma, já vinha de muito tempo. Chegava quase a segui-lo.
Se o encontrava nos lugares, arrumava uma maneira de ficar mais perto.  E quanto mais ele não buscava seu olhar, quanto mais se sentia invisível diante dele, mas o desejava.
 As pessoas que não a conhecem diriam que ela estava apaixonada. Mas Lucy que se conhecia muito bem sabia que aquilo era carnal, era desejo.
Naquela noite buscava outros rumos, novos ambientes, novos corpos, os mesmos desejos e pudores mas em pessoas diferentes e mais olhares que se limitavam a disso. Bebeu, dançou, flertou e até beijou. Um beijo falso, sem vontade, induzido pelo momento. Digno de arrependimento, se Lucy se arrependesse de não esconder seus impulsos.
De um canto do bar, passou ao centro. Queria ser vista, e conseguiu... por ele. O rapaz que ela gentilmente apelidara de "olhos que sorriem". Sem pensar muito, buscou e fisgou seu olhar. Enquanto ele andava, pousava seus pequenos olhos no grande olhar de Lucy. Permaneceram por alguns minutos se buscando, até ele sumir.
Embora não tivesse ido em sua direção, Lucy sentia, através daquele olhar, que finalmente ela iria descobri-lo. Seu desejo vinha de uma porção de curiosidades: como será seu toque? seu beijo? sua língua? O que gosta de fazer? Será que esconde seus desejos?
 Sem perceber foi conduzida a uma dança. Quando percebeu quem era, se entregou. Dançaram, e Lucy não pensava em mais nada a não ser em sua arrepiante atração. Beijaram-se, trocaram carícias, conversaram, riram, mas sem saber porque, Lucy foi embora... sozinha.
 Passaram dias, e o desejo pelo rapaz crescia. Já não tinha mais vontade de procurar novos lugares, queria buscar os mesmo para encontra-lo.
 Se encontraram mais uma noite, em mais uma festa cheia de olhares que buscam uns aos outros e corpos que permanecem congelados em função do pudor.
 As ações se repetiram: dançaram, beijaram, riram, conversaram e mais uma vez Lucy voltou sozinha para casa. Não sabia como isso pudera acontecer. Estava mudando? Somente beijos já  lhe satisfaziam?
 Não. Eram perguntas tolas vindas ligeiramente. Lucy sabia que não era isso, embora não entendesse porque suas noites terminaram daquela maneira, sem becos escuros, sem carícias picantes, sem suores, sem corpos em um só.
 Agora mais que nunca pensava nele, buscava ele. Queria terminar o que haviam começado, pois seu corpo transpirava desejo e excitação......


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A primeira vez que Lucius foi visitar Lucy em sua casa, divertiu-se como uma criança em um parque de diversões, onde pudesse mexer nas milhares de coisas divertidas e interessantes que ali existiam. Coleção de brinquedos do "Kinder ovo", alguns desenhos inacabados colados pela casa, bonecas penduradas, muitos pôsteres (principalmente da Cindy Lauper e dos Beatles). Em uma estante de madeira, já quase toda tomada por cupins havia uma caixa de couro vermelha, com colagens velhas que mais sujavam que enfeitavam a caixa. Lucius não se conteve.
Uma curiosidade o tomou subitamente. Precisava abrir aquela caixa que o desafiava. Olhando para os lados, temendo ser pego por sua amada, breve mas levemente Lucius empurrou a trava de metal enferrujada. Descobriu o maior e mais bizarro segredo de Lucy (pelo menos era o que ele pensava ser)...milhares de fotos 3x4 de mulheres, homens, velhos e crianças. A curiosidade havia lhe pego totalmente. " Não podem ser todos parentes. Tantos assim?Serão amigos e ex namorados?"
Lucy saiu do banheiro e se deparou com um Lucius diferente. estava mais nervoso, suando e com uma cara de criança que não entende porque seu cãozinho morreu.
Lucy soltou uma risada irônica e disse uma frase que deixou Lucius desajeitado, "que vistes aí?". Lucius até tentou relutar , mas acabou perguntando grosseiramente, talvez pelo nervosismo, "que diabos é isso? Tu conheces esse bando de gente?". Até continuaria com seu interrogatório, mas Lucy gargalhou e o fez paralisar. Com tom afável, Lucy respondeu "claro que não.Eu apenas coleciono." Lançou um olhar como quem dissesse que isso era natural, e o beijou como se o resto fosse irrelevante.
Ele nunca mais tocou no assunto, mas continuou com a curiosidade sobre aquilo que vira.