quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Chuva de suor e desejo

Fazia já algum tempo que Lucy não saía do "seu território", não viajava, não visitava cidades vizinhas, não conhecia outros ares, outras paisagens, outros corpos. Cansada de frequentar os mesmo bares, ver quase os mesmos rostos (embora sempre aparecesse algum visitante), andar pelos mesmos becos sombrios decidiu arrumar uma mochila e "fugir". Queria ver se a lua em outra cidade era mesma, se os desejos permaneciam ocultos nos moradores desse outro lugar, se os olhares diziam coisas que não sentiam e se as bocas se negavam a receber o vermelho do sexo.
 Partiu ligeira, urgente e sem rumo. Não tinha ninguém para se despedir na rodoviária, o que tornara sua partida um tanto quanto melancólica, mas não menos divertida. Olhou bem ao redor, na procura de uma "vítima" talvez. Uma despedida rápida no banheiro imundo daquele lugar. Nada lhe agradou.
 Ainda não sabia seu destino e para não ser injusta com nenhuma cidade, decidiu entrar na fila de pessoas mais interessantes e diversas. Uma fila com casais, velhotes com aspecto cansado de uma vida sem graça, jovens procurando por festas em lugares onde seus pais não pudessem descobrir, enfim, transeuntes solitários e fingidores de seus desejos, porém com algo que chamava atenção de Lucy.
 Embarcou e seguiu viagem alimentada pela curiosidade do que poderia encontrar por lá. Sem querer, acabara por escolher uma cidade pequena e pacata, mas ao invés de se arrepender de tal escolha, Lucy ficou ainda mais feliz, pois sabia que nessas cidadelas os desejos se ocultavam em lugares afastados, proibidos até mesmo de serem mencionados. Eram nesses lugares que Lucy queria espalhar a semente da luxúria, do pecado e do prazer.
  Foram seis horas de viagem cheias de expectativas, e embora o calor escaldante deixava seu corpo cansado, Lucy não queria descansar assim que chegasse na cidade. Queria descobrir.
   Ao chegar na pequena cidade, deparou-se com ruas quase vazias. Um ou dois carros passavam de vez em quando pelas ruas estreitas. O hotel que se hospedara ficava em frente a uma praça -única por sinal. Assim que o avistou, entrou direto pois precisava de um banho e de roupas mais leves.Subiu até seu quarto, e antes mesmo da porta se fechar, já estava se despindo. Entrou no chuveiro, se molhou e passou o sabonete delicadamente pelo seu corpo. Queria estar purificada para novas experiências. Depois de se enxugar, enrolou-se na toalha, abriu sua mochila e tirou a roupa que vestiria. Apesar do dia quente, sabia que mais tarde iria esfriar, e não pensava em voltar para aquele quarto tão cedo. Ao invés de um vestido, preferiu usar calças jeans.
   Saiu a andar pela cidade sem rumo. Já começava anoitecer e Lucy ainda não havia visto ninguém interessante. Na verdade, quase não enxergara pessoas naquela cidade. Alguns pingos de chuva começavam a cair, mas nada que impedisse Lucy de ficar pelas ruas.
   Chegou em frente a um bar e resolveu procurar algo que pudesse lhe aquecer. Se não encontrara um corpo, ao menos uma boa bebida servia para lhe encher de calor. Dentro do bar, havia um grupo de rapazes falando alto e discutindo sobre a bebida que levariam. Lucy olhou um por um, dos pés a cabeça e embora nenhum lhe atraísse, os achou divertidos. Se aproximou e sugeriu um vinho, já que a noite começava esfriar e a chuva traria ainda mais frio. Foi doce, simpática e sensual ao dizer tudo isso. Pronto! Foi o bastante para iniciarem uma série de conversas.
  Todos ali estavam a passeio na cidade e estavam prestes a fazer uma despedida, pois iriam embora na manhã seguinte. Estavam todos acampados em uma espécie de galpão, e muitos outros ainda estavam por lá. Lucy pensou em se convidar, mas antes disso alguém já havia lhe feito o convite.
   No momento em que saíam do bar uma tempestade se fez, inundando ruas e dificultando acessos. Um dos rapazes pegou seu telefone e ligou para um amigo motorizado, pedindo para que os buscassem. Logo chegou o tal amigo e Lucy, que ainda não havia encontrado o interesse nos outros, ali viu sua noite acender. Ele mal a olhou, mas ela sabia que mais tarde a olharia. E ela faria de tudo para que isso acontecesse.
     Chegaram no tal galpão gritando, cantando, festejando, enquanto alguns que haviam ficado no local respondiam no mesmo tom. Uns vieram conhecer Lucy, que se mostrou aberta a qualquer diálogo. Conversava sem tirar os olhos daquele homem. Um homem! Não era um rapazote de rosto bonito e pouca vivência na cama. Era um homem de rosto e corpo firme, cuja ótima "performance" se mostrava visível a Lucy. Ela o desejava mais que tudo ali. Mais que as conversas, que o vinho barato ou que a brincadeira que iniciava em um canto escuro do galpão.
   Todos toparam participar da brincadeira erotizada, com a proposta de fazer com que os segredos mais sagrados saltasse das bocas já embriagadas. Algumas revelações que juntariam muitos corpos sedentos, fogosos e atraídos desde o primeiro gole. Lucy queria participar para conhecer melhor o homem. Assim como ela, ele havia feito loucuras, denominadas como coisas horríveis e proibidas. E conforme iam se revelando seus olhares iam se cruzando, se encontrando e buscando a vontade de colocar algumas coisas em prática.  Lucy já não se segurava na cadeira.
  O homem saiu, se dirigiu ao banheiro e da porta fez um sinal para Lucy, que se levantou ligeira sem prestar atenção se alguém viria aquela cena. Antes que pudesse tocá-lo, ele a agarrou e a encostou em uma parede. Passando o banheiro havia uma espécie de sala escura. O lugar preferido de Lucy.
  Ferozmente aquele homem a beijou e a tocou sem pudor nenhum. Suas mãos transitavam pelo corpo de Lucy, assim como sua boca quente. O desejo de ambos era continuar com aquela sequencia de mãos, toques, beijos e apertões. Pouco importava se seria ali ou em outro lugar. No meio de tanta loucura foram interrompidos por passos que se aproximavam. Sem perder tempo o homem a convidou para conhecer seu carro. Lucy sorriu. Não precisava responder.
  Antes, beberam e riram mais um pouco. Como antes, o homem se dirigiu a porta da rua e fez um sinal. Lucy novamente correu dali, e dessa vez sabia que todos haviam percebido o que acontecia.
 O carro grande estava estacionado quase em frente a porta. Nem a chuva forte fez com que ambos desistisse da aventura. Lucy nunca entendeu sobre carros, só sabia que aquele era grande o bastante para fazer tudo e muito mais.
  Lucy estava em pé quando ele começou a beijar seu corpo, tirar sua roupa e penetrar sua língua. Uma língua que sabia os lugares certos, os pontos da loucura. Sua boca era quente e queimava as coxas de Lucy. Sua língua envolvia cada pedacinho, penetrava em cada canto ou dobra de pele. Lucy se sentia plena, e se soltava a cada toque que aquelas mão fortes lhe dava. Os calafrios já não podiam ser dominados, assim como os suspiros e os gemidos. Sim! Gemidos, como já nem lembrava mais como se emitiam. Os gritos vinham de uma parte do corpo ainda desconhecida por Lucy, mas isso já não importava mais. Ela gostava dessa espontaneidade do seu corpo. E como gostava. Nada era mais sincero que o movimento do seu corpo e seus gemidos. Enquanto ele dizia que Lucy podia fazer o que quisesse com ele, ela pensava o mesmo sobre ele fazer tudo com ela. 
  Pela primeira vez não queria ser a dominadora, não queria satisfazer apenas suas vontades porque sabia que os desejos eram os mesmos. Ambos queriam tudo e urgente!
 A língua de Lucy também percorria o corpo daquele homem cheia de prazer. Sua boca descobria e encobria o sexo pulsante e firme. Mesmo que fizesse tudo, que experimentassem maneiras e toques, nada os fazia parar. Nem mesmo o fato de talvez serem pegos pelo guarda que passava apitando em meio a chuva. 
Enquanto as gotas de chuva caíam lá fora, gotas de suor escorriam pelos corpos, sem que se pudesse identificar a quem pertenciam. Aliás, não se podia dizer que algo ali ainda pertencia a eles. Os nós de braços e pernas eram tantos que formavam um só ser.
 Os vidros embaçados delatavam o que ocorria dentro do carro. Talvez o balanço também pudesse denunciar algo. Mas nada importava naquele momento a não ser a procura e a busca um pelo outro.
Lucy jamais se sentira assim, tão satisfeita e ao mesmo tempo tão insaciável. Embora estivesse cansada de um dia cheio, com o corpo embebido em um vinho barato, sentia vontade de ficar dias trancada com aquele homem tão doce e ao mesmo tempo tão firme. Sabia que ele tinha muito mais a lhe oferecer e temia nunca mais saber o que era. Tinha medo do vazio que ele lhe deixaria ao partir, de nunca mais lhe beijar a pele. 
 Dessa vez, Lucy não sumira depois de terminar o ato. Pelo contrário, deitou o homem em seus braços, o olhou, o acarinhou e sorriu, tornando aquele momento doce e eterno.
 Não havia lua naquela noite, mas a chuva nunca fora tão bem vinda.
 

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